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out 10 2012

Documentoscopia

Posted by Adriana Queiroz
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Professor Edmond Locard (1877-1966), pioneiro da Ciência Forense, produziu um dos mais conceituados documentos da área: o Traité de Criminalistique, sendo que uma de suas citações mais conhecidas trata do local de crime como um cenário que contém um conjunto de evidências capazes de descrever a dinâmica dos fatos:

Quaisquer que sejam os passos, quaisquer objetos tocados por ele, o que quer que seja que ele deixe, mesmo que inconscientemente, servirá como uma testemunha silenciosa contra ele. Não apenas as suas pegadas ou dedadas, mas o seu cabelo, as fibras das suas calças, os vidros que ele porventura parta, a marca da ferramenta que ele deixe, a tinta que ele arranhe, o sangue ou sémen que deixe. Tudo isto, e muito mais, carrega um testemunho contra ele. Esta prova não se esquece. É distinta da excitação do momento. Não é ausente como as testemunhas humanas são. Constituem, per se, numa evidência factual. A evidência física não pode estar errada, não pode cometer perjúrio por si própria, não se pode tornar ausente. Cabe aos humanos, procurá-la, estudá-la e compreendê-la, apenas os humanos podem diminuir o seu valor.

A Documentoscopia, como parte deste cenário, é a área da Criminalística que utiliza conhecimentos científicos para estudar, examinar e identificar as falsificações documentais. Pode ser classificada basicamente da seguinte forma:

  • Exame Documental – verificação da integridade e autenticidade do documento.
  • Exame Grafotécnico ou Grafoscopia – análise dos grafismos com finalidade de verificar os elementos que individualizem a escrita.

É importante ressaltar que estes exames se complementam nos casos que envolvem documentos contendo grafismos. Portanto, em um exame grafotécnico todo o documento deve ser analisado para que seja verificada a existência de alterações.

A princípio, o estudo da escrita era um processo empírico e se tornou mais robusto na França através de pesquisadores como Jacques Raveneau em trabalhos como “Traité des Inscriptions em Faux” (1665), além de Michón e Crépieux-Jamin, principalmente em relação à Grafologia, ressaltando o estudo da personalidade do indivíduo por meio da escrita. Através de suas pesquisas, T. Wilhelm Preyer, químico e fisiologista, demonstrou que a escrita é um ato cerebral.

Edmond Solange Pellat, considerado o pai da Grafoscopia, foi quem utilizou este pensamento de Preyer e estabeleceu as leis do grafismo, formulando em seu livro Les Lois de L´écriture as quatro leis que respaldam a Grafoscopia, baseando-se no princípio fundamental de que o grafismo é individual e inconfundível.

LEIS DE SOLANGE PELLAT

Primeira Lei da escrita

O gesto gráfico está sob a influência imediata do cérebro. Sua forma não é modificada pelo órgão escritor se este funciona normalmente e se encontra suficientemente adaptado à sua função.

Quando o organismo está funcionando normalmente, o cérebro comanda a ação que é direcionada aos músculos, a fim de efetuar os gestos que irão gerar a escrita. Portanto, a sua produção pode ser efetuada, por exemplo, pela mão esquerda de um escritor destro, caso haja necessidade, sem que para isto se percam as características que individualizam a escrita.

Segunda Lei da Escrita

Quando se escreve, o ‘eu’ está em ação, mas o sentimento quase inconsciente de que o ‘eu’ age passa por alternativas contínuas de intensidade e de enfraquecimento. Ele está no seu máximo de intensidade onde existe um esforço a fazer, isto é, nos inícios, e no seu mínimo de intensidade onde o movimento escritural é secundado pelo impulso adquirido, isto é, nas extremidades.

O ato de escrever se inicia por um comando, mas prossegue por um instinto natural, sem que o escritor se dê conta de todos os mínimos que ocorrem durante a sua produção. É conhecido como automatismo gráfico.

Terceira Lei da Escrita

Não se pode modificar voluntariamente em um dado momento sua escrita natural senão introduzindo no seu traçado a própria marca do esforço que foi feito para obter a modificação.

Logicamente, contrapondo o que foi dito anteriormente, o esforço em escrever de forma consciente de todos os traços e minucias, quebra a espontaneidade do ato em si. A naturalidade com que a escrita se processa se torna um dos elementos que auxiliam na distinção de uma falsificação, onde as formas do verdadeiro autor podem ser copiadas de uma maneira mais “arrastada”, perdendo a sua naturalidade e consequentemente, sua individualidade.

Quarta Lei da Escrita

O escritor que age em circunstâncias em que o ato de escrever é particularmente difícil, traça instintivamente ou as formas de letras que lhe são mais costumeiras, ou as formas de letras mais simples, de um esquema fácil de ser construído.

O escritor geralmente recorre a traços mais simples quando acontecem situações que limitam o ato da escrita, como: problemas com o instrumento escrevente, suporte inadequado, posição do punho escritor em relação ao suporte, produção da escrita em movimento, etc.

Baseando-se nestes princípios e utilizando padrões adequados, o especialista pode realizar exames de verificação de autenticidade e/ou determinação de autoria gráfica. Portanto,  a Documentoscopia se torna um valioso instrumento para a produção da prova material.

Tags:Documento, Documentoscopia, Grafoscopia, Grafotécnica, Leis da escrita, Perícia, Solange Pellat

Comments (10)

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  1. Paolla
    3 de outubro de 2020

    Gostaria de saber quais são os instrumentos de trabalho da perícia grafotécnica, os que são usados no dia a dia da profissão

    Responder
    • Adriana Queiroz
      13 de outubro de 2020

      Olá Paolla, os recursos vão dos mais simples aos mais sofisticados a depender da necessidade dos exames. Nós usamos recursos de ampliação, como lupas manuais mais simples, assim como as mais sofisticadas como as estereoscópicas, que possuem maior recurso de ampliação e permitem a visualização em 3D. Além disso, existem recursos de iluminação como o uso de lâmpadas manuais com ultravioleta e infravermelho para verificação de adulterações documentais. A partir daí têm-se os vídeo comparadores espectrais que possuem recursos de ampliação e filtros com lâmpadas que cobrem desde a região do infravermelho ao ultravioleta, além de equipamentos que utilizam a Espectroscopia Raman, Espectroscopia com Infravermelho, Cromatografia ou a Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV).

      Responder
  2. Marcos
    5 de junho de 2016

    Como entro em contato contigo?

    Responder
    • Adriana Queiroz
      16 de julho de 2016

      Olá Marcos
      adriana@grafoexame.com.br

      Responder
  3. antonio rogério ribeiro
    18 de abril de 2016

    Adriana
    Parabéns
    Espero ser incluído no seu blog, objetivo, prático, e grande conteúdo
    att
    Antônio R Ribeiro
    maperitosassociados@yahoo.com.br

    Responder
  4. antonio rogério ribeiro
    18 de abril de 2016

    Adriana
    Parabéns
    Espero ser incluído no seu bog, objetivo, prático, e grande conteúdo
    att
    Antônio R Ribeiro
    maperitosassociados@yahoo.com.br

    Responder
  5. Paulo César Póvoa
    2 de fevereiro de 2014

    Excelente o seu trabalho. Continuarei consultando o seu blog. Gostaria de ler um comentário seu sobre cruzamento de traços.

    Responder
    • Adriana Queiroz
      3 de fevereiro de 2014

      Obrigada Paulo. Em breve tratarei deste tema.

      Responder
  6. IZAIAS
    12 de setembro de 2013

    GOSTEI DE SEU BLOG. VOU CONTINUAR CONSULTANDO.
    MEU INTERESSE ´É PELA GRAFOSCOPIA.

    Responder
    • Adriana Queiroz
      3 de fevereiro de 2014

      Continue acompanhando Izaias, pois tratarei de vários assuntos relacionados à Grafoscopia.

      Responder

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